[Talk-br] (Meio Off, ou não) Pedal exploratório urbano: Humaitá, Jardim Botânico e Horto

Nighto nighto em nighto.net
Quarta Agosto 5 06:59:28 BST 2009


É exatamente assim que eu imagino mapping parties ciclísticas...

Sent to you by Nighto via Google Reader: Pedal exploratório urbano:
Humaitá, Jardim Botânico e Horto via Diário de Uma Mulher de Ciclos by
Mulher de Ciclos on 7/25/09



Um roteiro pronto, meticulosamente traçado, caiu de bandeja nas mãos da
Mulher de Ciclos. O autor - que pediu para não ser identificado, mas
que mesmo assim eu vou contar para vocês quem é - bolou um pedal
exploratório urbano pelo coração da Zona Sul do Rio de Janeiro, por
ruas e recantos que muitos cariocas desconhecem, inclusive a dupla de
protagonistas da história.



Assim partiram para realizar a empreitada. Além de traçar o roteiro,
Monsieur Le Tradeaux também iria registrar os locais pelos quais
passariam com sua incansável câmera. Estavam com uma sequência de três
mapas, e o primeiro deles começaria pela Rua Viúva Lacerda, no Humaitá.
Para chegar lá, uma volta na Lagoa Rodrigo de Freitas, mais vazia que o
normal. Mérito do céu cinza, ameaçador.




No fim da rua - uma grande ladeira de paralelepípedos - checariam se há
passagem para a Rua Euclides Figueiredo. Não havia. No fim da subida,
mata fechada, uma pracinha e entrada para uma trilha que não se sabe
onde vai parar. Desceram e tomaram a Rua Vitório da Costa. Esta sim
daria continuidade ao pedal, sempre subindo.



Sucederam-se as Ruas Maria Eugênia e - finalmente - a Euclides
Figueiredo, uma sequência de ladeiras de paralelepípedos. E aconteceu
uma coisa estranha: uma leve vertigem tomou conta de Mulher de Ciclos
toda vez que olhava para cima, para as subidas de pisos irregulares,
cheias de limo e escorregadias da chuva.

Um temor e uma certeza invadiram-lhe o peito: iria cair. Era certo, era
‘batata’. Haveria de cair, claro, como poderia ser diferente? Naquela
ladeira íngreme, de paralelepípedos que mais pareciam barras de sabão.
E se caísse, cairia para o lado direito, o lado que sempre caía, e
bateria o mesmo joelho, já tão maltratado de inúmeras outras peripécias
ciclísticas. Seu corpo todo tremia só de pensar em cair e bater seu
joelho novamente, o que a desequilibrava ainda mais, e tornava a queda
iminente.




Começou a fazer uma associação inconsciente: ladeira de paralelepípedos
= queda = bater o joelho direito = dor. Subitamente foi inundada por um
horror medonho, um desespero, um pânico. Sentiu um bolo em sua garganta
e sufocou. Não conseguia mais respirar: as golfadas de ar fresco de
nada adiantavam, a garganta parecia obstruída. No topo da subida,
explodiram os soluços, e ela rebentou em um choro doído e maltratado.




Poucas vezes sentiu tanto medo em sua vida. Primeiro, medo da subida,
de cair, de machucar o joelho, de sentir mais dor, de ter que parar de
pedalar. Segundo, medo de sentir medo, toda vez que se visse na mesma
situação. Desesperou-se: como poderia pedalar com medo? Não seria
possível, teria que parar de pedalar? Não poderia conceber idéia mais
terrível!



Como sempre, Monsieur Le Tradeaux sabe todas as respostas e com uma só
frase arrancou-a do estupor: O que houve, deixou a ‘Mulher de Ciclos’
em casa hoje? Foi a senha para ela se recompôr e não se entregar a seus
medos. Não que ela não os tenha, muito pelo contrário: apenas tenta dia
após dia não se deixar abater. Começou a olhar para as ladeiras de
paralelepípedos com outros olhos: subir tornou-se um desafio, uma
questão de honra. Voltou a encarar as subidas como sempre fez: com um
certo respeito, um ligeiro temor e o sabor do desafio.




Seguiram a desbravar o restante do percurso traçado. A idéia era
percorrer os bairros de Humaitá, Jardim Botânico e Horto, por ruas
secundárias nas encostas, passando assim por cima do Túnel Rebouças.



De lá é possível ver boa parte da Zona Sul de outro ângulo: o telhado
da Igreja Santa Margarida Maria e a Lagoa Rodrigo de Freitas; as vias
expressas e o mundaréu de carros passando em alta velocidade para
entrar no Túnel Rebouças, que liga a Zona Sul à Zona Norte da cidade, o
Cristo Redentor logo acima.






No fim da Rua Caio de Melo Franco, o mapa indica uma ligação com a Rua
Engenheiro Alfredo Duarte, mas o Google Maps esquece-se de avisar que
é… uma escadaria!




O jeito foi retornar. Descem pela rua procurada, no fim da qual
encontram uma simpática pracinha, Praça Luís Mignone, no mesmo lugar em
que fica o fim de uma das compridas escadas.




Chegam à Rua Maria Angélica e à Praça dos Jacarandás, de onde pegam a
Rua Jardim Botânico e novamente a ‘civilização’. Antes, uma pequena
pausa para observar (e fotografar) os pequeninos micos que alvoroçam a
vizinhança e pulam carniça nos fios dos postes.





Mudaram de mapa, agora era a vez do segundo. Sobem a Rua Benjamin
Batista e descem pelas Ruas Itaipava e Faro, tornando a entrar na Rua
Jardim Botânico, mas apenas para pegar a Rua Conde Afonso Celso. Ali o
objetivo era passar na Pracinha Pio XI, velha conhecida, e rever a
escadaria de azulejos, lindíssima.




O cheiro que vinha de um dos prédios apressou os ciclistas. Alguém
preparava um almoço, com um cheirinho daqueles de barriga roncar.



Partiram com pressa e esfomeados para o mapa de número três, a explorar
o bairro do Horto. Subiram a Rua Lopes Quintas até o final, passando
pelos bistrôs, ateliês e pelas belas construções antigas que pululam no
lugar.




A descida é pela Rua Visconde de Itaúna, passando por uma simpática e
larga praça, de nome impronunciável.





Entram na Rua Sara Vilela, que por si só já valeu todo o passeio. A rua
é sem saída, placas avisam desde o seu início. Mas não se engane que
ela acabará logo.Uma sequência de subidas e descidas que fazem parecer
que se irá chegar a algum lugar.




E não é que realmente se chega? Pouco antes do fim da rua, sem saída,
fica o acesso para a trilha que leva à Cachoeira dos Primatas. A placa
informa: aquela área ‘urbana’ é também parte da Floresta da Tijuca,
setor Serra da Carioca.





Conhecer a trilha e a cachoeira ficou para outra ocasião, já que não
havia com quem deixar as magrelas. Mas a vista já recompensa, e
estende-se por boa parte da Lagoa Rodrigo de Freitas até o corredor de
palmeiras centenárias do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ao longe.




Descem o Horto e chegam à Rua Pacheco Leão, lugar já bem conhecido: dá
acesso a uma das mais ciclisticamente frequentadas subidas da Floresta
da Tijuca, a Vista Chinesa.



Parada rápida na Rua Estela - apenas o tempo que a fome permitiu - para
conhecer uma senhorinha de seus oitenta e tantos anos, moradora há 55
anos da antiga vila de casinhas operárias do bairro. De simples
casinhas geminadas em vila, os imóveis se valorizaram muito nos últimos
anos, e agora novos proprietários adquiriam algumas das casas. Alguns
as reformaram, mantendo seu aspecto original. Outros ‘deformaram’ a
aparência do lugar, tal qual uma cicatriz que insiste em macular a
vila, não perfeita, mas harmônica em sua irregularidade.




Mulher de Ciclos não só gosta de contar histórias, mas também de
ouví-las. Deixou-se ficar entretida, ouvindo mais um bocadinho, e vendo
as fotos antigas, muito antigas. Mas por pouco tempo: apressaram-se a
almoçar, o bobó de camarão na moranga e a caninha do Da Graça os
esperavam. Escritora que se preze tem que fazer suas anotações em mesa
de bar, bem lembrou Monsieur Le Tradeaux, que não deixa passar detalhe
algum. E assim começou Mulher de Ciclos a rabiscar umas baboseiras
quaisquer no versos dos mapas, claro, com a caneta do garçom.




Só que o passeio ainda não estava no fim. A próxima parada era no
‘Lebrão’, para conferir a quantas andava o Leblon Jazz Festival. O
lugar estava movimentado, cheio de gente bonita. Som mesmo, mal
ouviram, mas decidiram convocar os demais intrépidos, deixar as bikes
em casa, trocar de roupa e comparecer ao festival vestidos à paisana.




A volta foi pela orla. Já que haviam visto tanta floresta, agora um
pouquinho de maresia para desopilar os pulmões. Mas a história não
acaba aqui. O ‘The End’ foi somente na segunda-feira, quando Mulher de
Ciclos recebe por e-mail um vídeo, que lhe ensina uma bela lição. Veja
aqui o vídeo. Depois de assistí-lo, decidiu mesmo se livrar de todos os
seus lobos. Menos um que está sempre, mesmo quando longe, a seu lado: o
seu querido Lobo da Estepe… E que venham as ladeiras de paralelepípedos!




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