[Talk-br] Ruas residenciais em subúrbios: residential ou living_street?

Fernando Trebien fernando.trebien em gmail.com
Quarta Janeiro 8 21:12:03 UTC 2014


Questão difícil e cheia de detalhes. Resolvi fazer uma comparação de 4
casos e acabou ficando meio longa (mas relativamente bem justificada
eu acho).

Caso 1: http://goo.gl/maps/C46RZ
Caso 2: http://goo.gl/maps/Lu5xi (o mesmo que você mandou)
Caso 3: http://goo.gl/maps/rmQ6p
Caso 4: http://goo.gl/maps/Z0JZg

Características de cada um:
Caso 1 (residencial ideal): calçadas amplas, regulares e sem carros
estacionados nelas, pedestres (provavelmente) andam somente na calçada
Caso 2 (residencial com uso impróprio): calçadas amplas, regulares e
com carros estacionados nelas, pedestres se dividem (~50%-50%) entre
calçada e pista, próximo ao meio fio
Caso 3 (residencial com estrutura imprópria): calçadas estreitas,
bastante regulares até, sem a possibilidade de estacionar carros mas
com outros obstáculos temporários, pedestres andam na pista por padrão
Caso 4 (reapropriação por pedestres sem motivos estruturais): calçadas
amplas, regulares, sem carros estacionados nelas, pedestres andam a
maioria na calçada mas há muitos na pista (muito mais que o normal) e
não andam nela junto ao meio-fio

Anteriormente, eu teria classificado os casos 3 e 4 como living
street. Pelas nossas discussões recentes, seria apenas o caso 3. A sua
questão é sobre incluir o caso 2.

Algumas observações gerais:
1. O caso 1 (residencial ideal) poderia ser semelhante ao caso 2
(residencial com uso inadequado) e vice-versa caso a observação da via
fosse feita em outro momento. Mas ok, podemos adotar alguns limites
pra neutralizar esse efeito (como horário comercial, dia útil e fora
da época de férias).
2. É ilegal estacionar na calçada (e, de fato, é incomum por aqui),
mas as autoridades no Rio aparentemente são coniventes com a infração.
Então, na prática, há de fato diferença significativa entre o caso 2 e
o caso 1.

Do ponto de vista do pedestre:
1. A atitude geral é de que o pedestre é dono da pista nos casos 3 e
4. São casos em que o pedestre raramente se apressaria pra sair do
caminho para dar lugar a um veículo.
2. No caso 2, o pedestre já fica próximo a calçada pra voltar a ela
caso um veículo passe por ele ou precise estacionar.
3. Opinião pessoal (não factual): no caso 2, apesar de ser ilegal, e
de ser inconveniente, um pedestre ainda poderia optar por andar pela
calçada e ser quase totalmente feliz com essa escolha, exceto em
poucos lugares. Eu não sentiria a necessidade de andar na pista exceto
em uns poucos lugares. O mesmo se aplica ao caso 4, onde não sentiria
a necessidade de andar na pista nunca. Nesses dois casos, acredito que
um turista preferiria andar pela calçada, e estaria seguro nela, com
poucos inconvenientes.

Do ponto de vista de um motorista e também de um ciclista:
1. O trânsito nos casos 1 e 2 é essencialmente livre, embora haja mais
risco de acidente no caso 2. O trânsito nos casos 3 e 4 é
essencialmente compartilhado com o pedestre. A velocidade média nos
casos 1 e 2 é quase igual, mas significativamente menor nos casos 3 e
4.
2. No caso 2, é razoável presumir que um pedestre, na grande maioria
dos casos, daria lugar a um veículo assim que percebesse a sua
presença. Isso não isenta o motorista/ciclista de tomar cuidado, mas o
número de vezes em que ele precisaria diminuir a velocidade porque há
muitas pessoas no seu caminho é bem pequeno. (Pelo menos é assim aqui,
não sei aí, talvez descubra nos próximos dias.)
3. Nos casos 3 e 4, é imprudente assumir que o pedestre sairá do
caminho; fazer isso certamente levaria a vários acidentes em
sequência.

Do ponto de vista de uma pessoa em cadeira de rodas:
1. As calçadas são ótimas, quase excelentes no caso 1.
2. As calçadas não são muito boas no caso 2 e seria necessário usar a
pista para contornar alguns obstáculos.
3. No caso 3, é difícil pensar que a calçada seria útil em qualquer trecho.
4. Se estivesse andando pela pista no caso 4, é muito provável que um
motorista esperaria o cadeirante passar. Mas também é improvável que o
cadeirante entre na pista, já que seria difícil sair dela depois.
Digamos que não fosse, ainda assim acho improvável que ele o fizesse
porque seria bem menos seguro.

O que acho do impacto de considerar o caso 2 como living street:
- muitas ruas no Rio passariam a ter essa classificação, talvez
resultaria em mais living streets do que em residenciais (isso não é
necessariamente ruim)
- elas seriam essencialmente igualadas ao caso 3, mas acho que para os
usuários acima (pedestre, motorista, ciclista e cadeirante) ela se
assemelha mais ao caso 1

Qual o impacto de não fazer isso:
- poucas ruas seriam living streets, e a maioria ocorreria nas regiões
menos favorecidas - mas devido a problemas estruturais, não por
discriminação; politicamente, acho que isso poderia ter o efeito de
pressionar as autoridades a dar a devida atenção às ruas que mais
precisam de reformas infraestruturais (ou, quem sabe, a transformação
em outro tipo de rua, como em "vias de espaço compartilhados" oficiais
ou talvez em calçadões)
- não haveria diferenciação entre os casos 1 e 2, mas acho bem
provável que essa diferença seja, para a maioria das pessoas, bem
menor do que a diferença entre os casos 2 e 3

Pelos parâmetros com os quais andamos concordando recentemente, o caso
4 não seria uma living street. De todos os casos, é o que menos me
preocupa porque é raro e porque um critério objetivo seria bem difícil
de se conseguir.

Considerando tudo isso, eu classificaria como residential os casos 1 e
2, e como living street os casos 3 e 4, mas aceitaria classificar o
caso 4 como residential.

Existe um 5o caso a considerar agora: o das vias que oficialmente são
designadas como espaço compartilhado. Nessas, não há dúvida que seriam
living streets. O problema é não distingui-las das demais situações.
Ainda estou pensando sobre isso - talvez devamos pleitear uma
renderização diferente para ruas sem calçada larga ou com
wheelchair=limited/no.

2014/1/8 Arlindo Pereira <openstreetmap em arlindopereira.com>:
> Em determinados ruas residenciais dos subúrbios, pelo menos aqui no Rio de
> Janeiro, há a tendência de transformar a calçada (ainda que larga, em alguns
> casos de 3 a 5m) em extensão do terreno de casa, aonde o proprietário da
> casa comumente estaciona seu automóvel sobre ela, de forma que os pedestres
> geralmente andam pela rua mesmo. Em geral essas ruas são asfaltadas, de mão
> dupla, com limite de 30km/h (às vezes 20), com limitadores de velocidade
> (aqui no RJ chamamos de "quebra-mola"), esse tipo de coisa. Deixa eu dar um
> exemplo pertinho de onde moro:
>
> http://goo.gl/maps/Lu5xi
>
> Repare que a senhora está andando na rua, apesar de ter espaço na calçada,
> simplesmente porque a calçada é utilizada como estacionamento (além de ser
> mais irregular que o asfalto).
>
> Por enquanto, esta rua está mapeada como highway=residential:
>
> http://www.openstreetmap.org/way/190858955#map=17/-22.82430/-43.30629
>
> Mas eu penso em trocar para highway=living_street, uma vez que para mim ela
> se configura uma situação completamente diferente de ruas residenciais em
> outras partes da cidade, a citar como exemplo a Rua Silveira Martins, no
> Catete:
>
> http://goo.gl/maps/8JhRw
>
> Note que apesar da calçada ser até mais estreita, todos os pedestres
> trafegam nela; todos os automóveis estão estacionados na faixa de
> estacionamento, não sobre a calçada. Vejam esta rua no OSM:
>
> http://www.openstreetmap.org/way/5136166#map=18/-22.92606/-43.17666
>
> Na sua opinião, o primeiro tipo de via deveria ser classificada como
> highway=living_street? Por que?
>
>
> []s
> Arlindo
>
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