[Talk-br] A boa vontade embutida no OpenStreetMap não pode tudo

Alexandre Magno Brito de Medeiros alexandre.mbm em gmail.com
Segunda Junho 8 22:10:20 UTC 2015


*Era: "Re: [Talk-br] Digest Talk-br, volume 81, assunto 7"*

Olá a todos!

Meus comentários sobre alguns pontos trazidos pelo Ivaldo Nunes.

Toda a base de dados do DNE está disponível no busca CEP dos correios:
> http://www.bucacep.correios.com.br, onde é disponibilizado várias formas
> de consultas. Nisso a informação é publica, sem restrições de acesso.Não é
> muito complicado extrair relatórios lá, por bairros - por exemplo - enviar
> para o excel e depois csv, etc... Agora, as funcionalidades do sistema
> realmente são restritas à empresa.
>

Pode não haver restrição de acesso, mas certamente há restrição de uso,
implícita, para vários tipos de uso. Alguém se meta a fazer essa
"exportação", usar o resultado a seu bel prazer, e vejamos quanto tempo
demora para a empresa "buscar seus direitos" na Justiça!

Realmente a seria muito bom que os correios tornasse público a base de
> dados do DNE via gratuidade da licença do sistema, mas para quê serviria
> isso? Bom, talvez para alguém ter algum nicho de trabalho facilitado,
> *[...]*
>

Só a partir de uma coisa dessas é que o OpenStreetMap poderia licitamente
importar aqueles dados. Não estou opinando se a coisa toda está moralmente
certa ou moralmente errada. Só estou dizendo que hoje o OpenStreetMap não
tem o apoio da lei, evidenciado e indiscutível, para fazer uso daqueles
dados de CEP que são disponibilizados pelo site dos Correios.

Desse modo, não vejo o CEP como um problema, mas uma prioridade menos
> importante, não urgente, frente ao nosso mapa atual: milhares de cidades
> nem aparecem.
>

Ter o CEP desde o início é uma questão estratégica. Alguns podem achar que
é imprescindível, para se aproveitar um grande primeiro esforço de
mapeamento, que será quase o único. Outros podem achar que CEP é algo que
pode ficar pra depois, a ser importado com automatizações ou grandes
facilitações obtidas por software. Eu penso que os dois estilos são
importantes e não deveriam se excluir mutuamente, já que o contexto é o
projeto OpenStreetMap movido por voluntarismo, e não um empreendimento
corporativo originado por $$.

Alexandre Magno


Em 8 de junho de 2015 18:24, Ivaldo Nunes de Magalhães <ivaldonm em gmail.com>
escreveu:

> Pessoal, relativamente aos tópicos DNE, CEP, ECT, e CNEFE, gostaria de
> fazer alguns comentários pois recentemente estive envolvido com processos
> ligados aos mesmos, tendo trabalhando com o DNE e ainda sendo analista da
> ECT - correios, mas não falo em nome da mesma, mais sim por convicção
> própria.
>
> 1. ECT/Empresa Pública: realmente os correios são uma empresa publica, mas
> ela é uma empresa e não um órgão público (como um posto de saúde ou
> escola), fazendo parte da administração indireta. Nesse ponto, possui
> vários sistemas corporativos cuja utilização é restrita à empresa, no caso
> o DNE. Por exemplo: o BB - Banco do Brasil, também tem seus sistemas, entre
> eles o SISBB. É complicado para eles divulgarem sua base de dados ao
> público.
>
> Toda a base de dados do DNE está disponível no busca CEP dos correios:
> http://www.bucacep.correios.com.br, onde é disponibilizado várias formas
> de consultas. Nisso a informação é publica, sem restrições de acesso.Não é
> muito complicado extrair relatórios lá, por bairros - por exemplo - enviar
> para o excel e depois csv, etc... Agora, as funcionalidades do sistema
> realmente são restritas à empresa.
>
> 2. Não existe, ainda, georreferenciamento no CEP, pois ele não identifica
> um ponto (identificação num mapa de um cruzamento de latitude com
> longitude), mas sim uma linha/logradouro, no caso de a cidade ter CEP por
> logradouros.
>
> 3. O CNEFE (Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos) é outro
> ponto que deve ser visto com ressalvas. Veja que o próprio nome fiz:...
> para Fins Estatísticos. O que significa isso? Não é oficial.
>
> Explico: embora o IBGE seja um órgão público, e portanto oficial, não
> significa que os endereços do CNEFE sejam oficiais. A única entidade com
> poder sobre os endereços são as prefeituras municipais, e as respectivas
> câmaras de vereadores. Porque isso? Qualquer loteamento, condomínio, bairro
> ou logradouro (rua, avenidas, etc) para existir dependem de decreto ou lei
> municipal. Sem isso, oficialmente não existe e não é reconhecida pelos
> órgão públicos.
>
> Muitos dos endereços do CNEFE são coletados dos moradores nos censos.
> Quando a rua existe (fisicamente) ou não é oficial, o morador diz ao IBGE
> que mora na rua A, quando na verdade o nome correto da rua seria (ou será)
> B.
>
> Exemplifico melhor, na prática: em meados de 2014 tivemos uma demanda para
> cadastrar mais de 250 logradouros de Formosa/GO existentes no CNEFE, mas
> que não tinham CEP. A primeira etapa foi consultar o mapa local, oficial,
> mais atualizado. Resultado: encontramos apenas 5 endereços, cuja grafia no
> mapa (a principio estava incorreta). Depois foi feito trabalho de campo na
> cidade, consultando os entregadores (carteiros) e prefeitura. Ao final, dos
> mais de 250 endereços, apenas 48 realmente existiam, sendo que mais de 25
> estavam com nomes divergentes (prefeitura um, CNEFE outro).
>
> Recentemente fim um mapeamento completo de uma cidade aqui do Mato Grosso
> do Sul, baseado no CNEFE e mapas do IBGE. Poucos dias depois obtive o mapa
> atualizado da prefeitura. Conclusão: mais de 85% dos endereços do CNEFE não
> existiam.
>
> Não estou excluindo o CNEFE/Mapas IBGE como base, mas devem ser utilizadas
> se não existir nada oficial.
>
> 4. O que fazer então?
> Realmente a seria muito bom que os correios tornasse público a base de
> dados do DNE via gratuidade da licença do sistema, mas para quê serviria
> isso? Bom, talvez para alguém ter algum nicho de trabalho facilitado, na
> validação de alguma coisa ou na inclusão dos CEPs de forma automática no
> OSM. Talvez algo mais. Sistemas são muito a minha área.
>
> Vislumbro outras coisas mais úteis. O que?
> O que é preciso para uma cidade ter CEP por logradouro?
> Basicamente 3 coisas:
>  - População = ou > que 50.000.
>  - Mapa atualizado;
>  - As informações do mapa (nome das ruas, bairros, limites) sejam oficiais
> (validados pela prefeitura).
>
> Um exemplo
> Minas Gerais tem mias de 30 cidades nessas condições, só falta o mapa. O
> que emperra o processo.
>
> Entre 2013 e início de 2015 rodei bastante pelo DF e entorno. O DF está
> muito bem estruturado na atualização dos mapas, nas no entorno a situação é
> precária. Tem prefeitura que terceiriza os projetos de mapas por não ter
> pessoas capacitadas (sic) nessa área. Acredito que essa situação se repita
> pelo país.
>
> Nesse ponto acredito que o OSM tem um papel fundamental: suprir essa
> lacuna de deficiência de pessoal capacitado, já que ("fazer mapas é fácil,
> basta querer") democratizou esse conhecimento com a disponibilização de
> suas ferramentas.
>
> Desse modo, não vejo o CEP como um problema, mas uma prioridade menos
> importante, não urgente, frente ao nosso mapa atual: milhares de cidades
> nem aparecem.
>
> Outro ponto são as imagens muito desatualizadas do OSM. que dificulta o
> esforço criativo voluntário dos leigos, como eu.
>
> Assim, acredito que o imediato seria focar em 2 frentes:
> 1- trabalhar fortemente com as prefeituras, no implemento das tecnologias
> do OSM para a produção de mapas inexistentes ou indisponíveis e atualização
> dos incompletos. Lembrando que a Terra é muito dinâmica, muda todo o dia.
> Por isso requer atualização constante.
>
> 2- implementação de imagens/camadas mais atualizadas no OSM. Talvez junto
> ao INPE, ou outra fonte. A imagem do google é muito superior à do OSM. Isso
> dificulta.
>
> Para finalizar, a ECT pensa (ou já trabalha) com o OSM nas cidades com
> carência de mapa. A lógica é: *pôxa, 70% do mapa da cidade está no OSM.
> Vamos incluir o resto e pedir que a prefeitura valide o mapa.* Depois se
> importa para o QGis e pronto.
>
> É isso, pessoal. A intenção foi colaborar de alguma forma e não se opor a
> ninguém. Abraços
>
> *Ivaldo* Nunes de Magalhães
> E-mail: ivaldonm em gmail.com
> Blog: makermaps.blogspot.com.br
> (67) 8108-7415 - 3431-2810
> (61) 9139-7560
>
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